Thursday, January 24, 2008

Quando cada minuto conta……

O ano que passou foi de muito conflito. Com o marido, comigo mesma. Passei meses pra entender que estar casada e feliz é tranquilo mesmo, que é isso aí, que eu achei alguém que eu verdadeiramente amo e que sim, é o fim de uma fase que foi muito boa, mas também o começo de outra, mais madura e enriquecedora. É engraçado que mesmo estando casada há mais de dois anos eu tenha por tanto tempo resistido à idéia de que amar, me dedicar, mostrar preocupação e carinho, que essas não são fraquezas, mas simplesmente parte natural do relacionamento. Estranho como eu resisto tanto a algo que é absolutamente natural pros outros. Mesmo fazendo trinta anos em breve, às vezes me sinto tão adolescente... quando eu era mais jovem eu acreditava que a idade trazia conhecimento instantâneamente, “- parabéns Dona Sugar, aqui está o seu manual 30 anos, leia tudo direitinho e comporte-se e pense conforme a sua faixa etária.” Hoje eu vejo que o normal das pessoas não é necessariamente o meu normal, e que isso é bom, porque o normal dos outros simplesmente não me faria feliz. Eu preciso questionar, analisar – não é uma escolha, mas uma necessidade. Deve estar funcionando, porque eu nunca estive tão feliz.

Durante esta busca por auto-conhecimento eu senti uma vontade enorme de me reconciliar com o meu pai. A verdade é que passei boa parte dos últimos anos com culpa por estar com raiva do meu pai. Enquanto eu estava longe mas ele estava saudável a culpa era controlável, mas depois que ele descobriu o câncer, passado o choque da notícia, a culpa era insustentável. Sim, porque se sentir raiva já é ruim, ter raiva de uma pessoa doente é pior ainda. Arrumei minhas malas e fui pro Rio ficar com ele. Nos primeiros dias achei que fosse enlouquecer, depois percebi que o meu pai transcende o conceito de entendimento, que suas escolhas não são racionais, mas que se eu não consigo verdadeiramente entendê-lo, eu posso pelo menos aceitá-lo e ter a certeza de que ele é o que é e de que não vai mudar. Suas escolhas de vida não seriam as minhas, suas opiniões não me agradam e eu sinto que ele não me conhece direito mas, quer saber? Talvez isso não seja tão importante, porque graças ao bom Deus nós somos pessoas diferentes (ou talvez parecidas demais pra se reconhecer no outro), e muito do que eu sou é por influência dele. No fim, com um pouco de álcool e algumas palavras amargas, atingimos um ponto de acordo. Consegui perdoar o meu pai por tantas coisas que ele nem faz idéia, e que talvez seja melhor assim. O perdão foi um grande passo, foi um bem que fiz a mim mesma. Encontrei uma paz em mim que nem sabia que existia. Voltei a sentir um amor profundo pelo meu pai, sem raiva, sem críticas.

O ano acabou de forma perfeita, eu voltando do Brasil, feliz, renovada, numa festa na casa da minha irmã. Quando me perguntaram qual era a minha resolução de fim de ano, simplesmente disse “keep up the good work” algo como “prossiga com o bom trabalho”. E é isso mesmo, porque do meu jeito, meio anormal e lerdo, eu estou chegando lá.

d-_-b “cause = time” – Broken Social Scene

3 comments:

Anonymous said...

Bom ver essa paz de espírito, querida.
Uma paz não simplesmente conseguida, mas batalhada, fruto de reflexões e atos.
Um 2008 maravilhoso pra vc, e um feliz 2009, 2010, etc, etc, etc...

Te adoro!

Anonymous said...

Bom saber de tudo isso, Sugar. Ainda não consigo ser assim, mas...quem sabe? Também sinto os 30 mais próximos que nunca porém veja que minha percepção de mundo só tende a aumentar. Estou prestes a ser cidadã do mundo. Espero melhorar como ser humano a cada dia e não precisar do manual - se ele chegar - para ser um pouco mais feliz. Até.

Anonymous said...

Reconciliações sempre são boas. Saber perdoar é divino, e transcender é essencial na vida.

Skywalk!